quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Carta a um Jovem Torcedor



Querido jovem torcedor,



Tenho exatos 81 anos e nasci no Bom Retiro, pouco antes queminha família se mudasse para a região do Tatuapé.


Nasci no ano da inauguração do Parque S. Jorge eorgulhosamente Campeão Paulista.


Sou corinthiano desde que sou gente. E não lembro de um diasequer em que não tenha pensado no nosso Timão.


Fiz muitas coisas na vida, como nadar no Tietê e ajudar aconstruir Brasília, trabalhando como eletricista.


Lá, eu fiz muitos amigo candangos. Ele me conheciam como o"corinthiano", porque eu costumava andar pelo PlanaltoCentral com uma camisa branca, com nosso distintivo bordadosobre o coração."sampaulinos".


Convivo sem problemas com um problema na perna esquerda,resultado da época em que não tinha vacinas neste país.


Mas não foi isso que me impediu de chutar a bunda de umpalmeirense que cuspiu numa bandeira minha, em 1.960,época do nosso jejum.


Eu tenho visto que a nossa torcida mudou.


Nosso time sempre foi o time do povo, como diziam os amigosdo meu pai, no "Bonrá", o apelido do bairro.


Hoje, vemos um diretor falar que tudo virou business eficamos todos quietos, dando razão a esse absurdo.Na minha época de jovem, o jogador era escolhido por umolheiro, e devia responsabilidade somente ao clube.Hoje, eles preferem dar dinheiro aos tais empresários e anossa torcida acha que está certo, se conforma.



A torcida do Corinthians não foi assim nunca. Ela sempreapoiou, mas sempre protestou. Pois quem apóia, paga ederrama lágrimas, tem sim o direito de expor sua opinião.


Pelo que vejo hoje, dizem que as pessoas mobilizadasnão são corinthianos. O vídeo mostrado por meusobrinho-neto, falava em "modinhas" e "cornetas",palavras que eu não conhecia.Então, ele me explicou.


Segundo ele, os jovens usam esses nomes para criticaraqueles que condenam as negociatas e exigem um Corinthians vencedor.


Por essa regra, os torcedores participativos, que sesentem responsáveis pelo Timão, são considerados"sampaulinos".


Eu vi a torcida do Corinthians muitas vezes furiosa.


Havia quem pedisse dinheiro emprestado da sogra para tentarassistir a um Corinthians x Palmeiras.


Mas o rapaz ficava fulo da vida se o time não correspondia.


Meu pai encrencou com meia cidade em 1.933, quando ocartola da época vendeu meio time para fazer dinheiro.


Aí, fomos enfrentar o palestra e tomamos de 0 x 8.


A torcida nossa fez uma loucura e chegou a botar fogo na sede.


Eu não acho a violência o modo correto de protestar. E nemacho que jogar cadeira no diretor é coisa de gente com cabeçano lugar.


Mas eu entendo como essas coisas são no espírito doFiel, principalmente dos mais simples, que têm o Corinthianscom uma das únicas alegrias da vida.


Eu já não era novinho na época da Ditadura, mas ainda ia aosjogos e vi a Gaviões da Fiel protestar contra os bandidos doclube e vi também essa turma pedir Anistia e Diretas-Já.


Em 1.984, havia muitas bandeiras nossas nos comícios daSé e do Anhangabaú.


Meu pensamento pode estar meio desordenado, mas eu querodizer que a gente sempre tem que assumir o comando dascoisas. Se a gente gosta mesmo, tem que apoiar e cobrar.


O que aconteceu com as vendas desses jogadores foi umexemplo de que eles querem é fazer lucro rápido e não pensamem você, jovem torcedor.


Hoje, o business é tudo. Mas isso não está certo. Eles nãorespeitam os contratinhos e deixam os empresários tomarconta do que é seu.


Foi por isso que entregamos o sonho da tal coroa tripla.Agora de noite, vi nosso técnico dizendo que não dá mais, quenão temos mais chances. E isso antes de acabar o primeiroturno, hein...


Pra mim, isso é triste, pois nunca vi o Corinthians se render.


Jovem torcedor, lute pela nossa tradição. Não tenha medo deerguer a voz, pois esse clube nós fizemos para você. Cuidedele com carinho e respeite sua tradição.


Não deixe este diamante se quebrar.



Rubens Calábria, Vila Matilde, SP, Capital, Brasil


Obs: Esta foto é do aniversário da Estopim da Fiel Pouso Alegre no seu aniversário deste ano.